quarta-feira, junho 17, 2009

No espelho, Mario Quintana viu que o Tempo, desconcertado, estava parado, parado em cima do telhado... Como um catavento que perdeu as asas!


O espelho


E como eu passasse por diante do espelho
não vi meu quarto com as suas estantes
nem este meu rosto
onde escorre o tempo.

Vi primeiro uns retratos na parede:
janelas onde olham avós hirsutos
e a vovozinhas de saia-balão
como pára-quedistas às avessas que subissem
do fundo do tempo.

O relógio marcava a hora
mas não dizia o dia. O Tempo,
desconcertado,
estava parado.

Sim, estava parado
em cima do telhado...
como um catavento que perdeu as asas!

Mario Quintana
(1906-1994)

Mais sobre Mario Quintana em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

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