sábado, junho 06, 2009
José Régio sonhou uma canção cruel sobre o amor e a morte. E pede: não te apagues, sonho, mata-me como eu sonhei.
O amor e a morte
Canção cruel
Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus músculos!
Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!
Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!
Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!
Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!
Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!
Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!
Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.
José Régio
(1901-1969)
Mais sobre José Régio em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_R%C3%A9gio
(/code)
(code)
Marcadores:
José Régio
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário