terça-feira, junho 16, 2009

Ânsia de Rosa e braços nus, findou de enleios ou de enjôos. Que desbaratos os meus vôos, que espantalho a minha cruz, grita Mário de Sá-Carneiro.


Desquite


Dispam-me o Oiro e o Luar,
Rasguem as minhas togas de astros -
Quebrem os ónix e alabastros
Do meu não me querer igualar.

Que faço só na grande Praça
Que o meu orgulho rodeou -
Estátua, ascensão do que não sou,
Perfil prolixo de que ameaça?...

...E o sol...ah, o sol do ocaso,
Perturbação de fosco e Império -
A solidez dum ermitério
Na impaciência dum atraso...

O cavaleiro que partiu,
E não voltou nem deu notícias -
Tão belas foram as primícias,
Depois só luto o anel cingiu...

A grande festa anunciada
A gala e elmos principescos,
Apenas foi executada
A guinchos e esgares simiescos...

Ânsia de Rosa e braços nus,
Findou de enleios ou de enjôos...
- Que desbaratos os meus vôos;
Ai, que espantalho a minha cruz...

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário de Sá-Carneiro em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

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