quarta-feira, abril 01, 2009

Manuel Bandeira tem tudo quanto quer. Mas também quer a delícia de poder sentir as coisas mais simples.


Belo Belo


Belo Belo Belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de contelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo - que foi? passou - de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tento tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

Um comentário:

Unknown disse...

A sinestesia em estado de levitação. Poder estar na posição pefeita e sincrônica com e êxtase, dádiva da Viva aos que mantêm-se inteiros no universo. Belo belo belo, tenho tudo quanto quero.Saciei a alma e o corpo não reclama dores. Obrigado Manuel Bandeira, teu poema e o refrigério, a lucidez e a comtemplação dos que amam o infinito. Obrigado, Manuel Bandeira.