quarta-feira, abril 01, 2009
Para Affonso Romano de Sant'Anna, um corpo só, é como fruto na pirâmide: - não vinga. Um corpo só, é quando amadurece a própria morte.
A solidão do corpo
Na solidão,
o corpo pode gritar
ou fincar-se como um mastro,
que nem a dor e o alíseo vento
lhe trarão de volta a chave.
Nada há de pélagos e escarpas
no senho do que se esculpiu de trevas,
antes,
é liso e verde como um fruto inteiro.
Parece que dorme.
Há desalinho nos braços e cabelos.
As partes
despojadas sobre o branco pasto do lençol.
Parece de pedra
com sua andadura móvel nas calçadas
e um senho opaco em meio às roupas.
Um corpo só,
é como fruto na pirâmide:
- não vinga.
Se queima em seus desertos
e arde suas dormências,
mas não conhece reflexo.
É opaco
como se alheio às artimanhas nos telhados,
aos veludos na calçada
e alheio à luva sobre a chave.
Um corpo só,
é duro como a rocha
que não se penetra de espadas,
que não se penetra de falas,
que não se penetra de asas.
A um corpo só,
nem raios lhe abrem o riso,
nem seus cabelos dão ninhos.
Um corpo só,
é quando amadurece a própria morte.
Affonso Romano de Sant'Anna
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