segunda-feira, abril 20, 2009
Em sua ode, Ricardo Reis diz que pouco lhe importa amor ou glória. Para ele, a riqueza é um metal, a glória é um eco e o amor uma sombra.
Tirem-me os deuses
Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.
Tirem-me, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.
Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.
Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.
Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é o plácido Universo,
Sua riqueza a vida.
A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.
O resto passa,
E teme a morte.
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.
Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.
Ricardo Reis, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
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