sexta-feira, abril 24, 2009
Para alegrar esta gente, Augusto dos Anjos abre a válvula dos risos. E em seu estilo todo próprio, nos brinda com um poema sobre o Carnaval...
Versos carnavalescos
Digno, como um presidente
- CLOWNESCO, tangendo guisos
Abro a válvula dos risos
Para alegrar esta gente.
Meu povo, não seja leso!
Reparem Manoel Hipólito
Das brincadeiras acólito
E peru de roda obesa.
Vejam como ele está todo teso!
O seu olho não balança.
Mas o que nele a esperança
Estrangula, e o põe de molho,
Não é, meus senhores, o olho
É o promontório da pança.
Boas-noites, seu Mesquita,
Deixe de fazer esgares,
Olhe a seta dos olhares
Daquela moça bonita!
Para que se precipita?!
Coma presuntos e engorde,
Mesquita, não durma, acorde,
V. é lá criancinha?
Agora uma perguntinha:
Seu Mesquita, V. morde?
Que fenomenais arranjos,
Que impulsos de bode esperto,
Será aquele de certo
Dr. Odilon dos Anjos?
Em matéria de marmanjos
Ninguém o excede, em verdade,
Possui tudo: - a exiguidade
Dos seus bigodes de gato;
E aqui não há nenhum rato
Que o vença em sagacidade.
Olha o Benjamim Fernandes,
Sujeito de mãos gorduchas
Que é fabricante de buchas
E tenta transpor os Andes,
Usa umas pernas tão grandes,
Que até me causam receio,
É forte no bamboleio,
Tem pestanas de estopim,
Toma figa, Benjamim,
Vá de retro, bicho feio!
Possuo a harpa de David,
E embora, senhores, peque
Eu faço um salamaleque
À elegância de Nini.
Ninguém me expulsa daqui,
Não há ninguém que me expulse,
Faltam-me as rimas em ulce,
Que sorte aziaga e mesquinha,
Bravos de D. Donzinha
E da elegância de Dulce!
D. Áurea aceite deveras
Meus parabéns, olhe, aceite,
Eu peço que não enjeite
Estas palavras sinceras.
Rasgue as máscaras austeras,
Isto lhe não dá trabalho.
Dr. Nevinha Carvalho,
Responda, não vá embora,
Diga, por que é que a senhora
Não faz versos para O Malho?
Vamos fazer da Folia
Um alegórico mastro!
É D. Eurídice Castro
Quem no-lo fazer devia,
Mas fica para outro dia
Esta exótica incumbência,
A absurda resplandecência
Do carnaval continue
Que o povo, quando se influi
Não interrompe a alegria.
Como um soberbo paxá
Aqui termino. Aqui fico
(Entre parênteses) Chico
Solon ou Chico de Sá.
Como ele, talvez não há,
Raspou noutro dia o andó,
Às vezes, resmunga só
Premeditando atitudes
De elegância, come grudes
E escreve Dulce com O.
Augusto dos Anjos
(1884-1914)
Mais sobre Augusto dos Anjos em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
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