domingo, setembro 14, 2008
Um amigo caridoso de Guimarães Rosa vai repetindo, a cada instante, sem parar, tudo o que a sua esquiva amada teima em não lhe dizer. Que bom amigo.
Meu papagaio
Toma a palavra, na gaiola alta,
Papagaio Real, meu Papagaio Louro,
sisudo e notável discursador!...
Muito bem!...Apoiado!...
Assim empoleirado,
de fraque verde com botões cor de ouro...
Não sabes, Narigudo Papagaio,
o quanto admiro cada coisa em ti:
tua eloquência, teus passinhos tortos,
teu plastron rubro
teu soberbo humor...
Mais uma vez, meu Papagaio,
quase humano,
meu confidente,
meu consolador!
Repete, discursando,
gravemente:
- "Io t'amo!..."
- "Je t'aime!..."
- "I love you!..."
- "Te amo!..."
- "Te quiero!..."
- "Ia vás liubliú!..."
Vai repetindo, amigo,
caridoso,
a cada instante, sem parar,
tudo o que a minha esquiva amada
teima em não me dizer...
Guimarães Rosa
(1908-1967)
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