quinta-feira, setembro 04, 2008

Pessoas pertencidas de abandono me comovem. Em versos, Manoel de Barros faz o retrato do artista quando coisa.


Retrato do artista quando coisa


Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.

O ser que na sociedade é chutado como uma
barata -- cresce de importância para o meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar
para baixo.

Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão --
Antes que das coisas celestiais.

Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.

Manoel de Barros

Mais sobre Manoel de Barros em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros

Um comentário:

Andréa Nunes disse...

uhhhuuuu.... parabénsss

sabe que dificilmente encontro poesias de Manoel e Barros postada assim? me surpreendeu, ainda mais que ele é meu aqui do MT rsrss...
realmente o melhor da poesia aqui.

Abraços