sexta-feira, setembro 26, 2008

No belo poema de Manuel Bandeira, um homem loquaz apregoa balõezinhos. Em torno dele, os menininhos pobres fazem um círculo de desejo e espanto.


Balõezinhos

Na feira do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
- "O melhor divertimento para as crianças!"
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.

No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.

Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa:
- "O melhor divertimento para as crianças!"
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.

Manuel Bandeira

(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

3 comentários:

Augusto S² disse...

Amigo, não me leva a mal. Gosto muito do Bandeira, do Gullar e etc., mas você nunca pensou em ler alguns poetas mais novos? Populares ou não eciste uma produção gigante nos dias de hoje e muitagente boa.

Desculpa, eu adimiro o antigo e defendo o novo.

Abraços e pensa bem. Vou freqëntar aqui quando for possível.

Danilo disse...

Não conhecia esse do Bandeira. Por isso que adoro esse blog, cheio de novidades dos grandes poetas.

Anônimo disse...

Lembro-me desse belo poema dos meus livros de Português da época em que ainda se chamava o ensino de "Primário". E eu me emocionei ao relembrar, muito bom...

(vim aqui através de um link que me apareceu no Orkut. E gostei.)

bjo