Balõezinhos
Na feira do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
- "O melhor divertimento para as crianças!"
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.
Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
- "O melhor divertimento para as crianças!"
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira
3 comentários:
Amigo, não me leva a mal. Gosto muito do Bandeira, do Gullar e etc., mas você nunca pensou em ler alguns poetas mais novos? Populares ou não eciste uma produção gigante nos dias de hoje e muitagente boa.
Desculpa, eu adimiro o antigo e defendo o novo.
Abraços e pensa bem. Vou freqëntar aqui quando for possível.
Não conhecia esse do Bandeira. Por isso que adoro esse blog, cheio de novidades dos grandes poetas.
Lembro-me desse belo poema dos meus livros de Português da época em que ainda se chamava o ensino de "Primário". E eu me emocionei ao relembrar, muito bom...
(vim aqui através de um link que me apareceu no Orkut. E gostei.)
bjo
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