terça-feira, março 18, 2008

Quanto mais dádivas sua amada recebia, ainda mais exigia. Então, Carlos Pena deu-lhe o frio esquecimento e mais não podia dar.


As dádivas do amante


Deu-lhe a mais limpa manhã
Que o tempo ousara inventar.
Deu-lhe até a palavra lã,
E mais não podia dar.

Deu-lhe o azul que o céu possuía
Deu-lhe o verde da ramagem,
Deu-lhe o sol do meio dia
E uma colina selvagem.

Deu-lhe a lembrança passada
E a que ainda estava por vir,
Deu-lhe a bruma dissipada
Que conseguira reunir.

Deu-lhe o exato momento
Em que uma rosa floriu
Nascida do próprio vento;
Ela ainda mais exigiu.

Deu-lhe uns restos de luar
E um amanhecer violento
Que ardia dentro do mar.

Deu-lhe o frio esquecimento
E mais não podia dar.

Carlos Pena Filho

(1929-1960)

Mais sobre Carlos Pena Filho em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Pena_Filho

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