terça-feira, março 18, 2008

Feiticeiro sem deuses, Miguel Torga reconhece o limite dos seus encantamentos, mas é desse limite que se ufana. Ser humano e poeta, humildemente.


Exame


Feiticeiro sem deuses, reconheço
O limite dos meus encantamentos.
Só em raros momentos
De inspiração
Eu consigo o milagre dum poema,
Teorema
Indemonstrável pela multidão.

Mas é desse limite que me ufano:
Ser humano
E poeta.
Humildemente,
Com toda a paciência da terra,
Com toda a impaciência do mar,
Aguardo o transe, a hora desmedida;
E é o próprio rosto universal da vida
Que se ilumina,
Quando o primeiro verso me fulmina.

Miguel Torga

(1907-1995)

Mais sobre Miguel Torga em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga

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