sexta-feira, março 07, 2008

Até o trágico fim, Antônio Botto viveu um eterno drama . Mas a vida atormentada não fez mal à sua Poesia, muito pelo contrário.


Ouve, meu anjo

Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?

Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!,
A carne do assasssino
É como a do virtuoso.

Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.

Na vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia...

Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!

António Botto

(1897-1959)

Mais sobre Antônio Botto em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Botto



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