terça-feira, março 27, 2007
Nos versos do poeta, um pouco do sofrimento de um exilado. Do desejo de chupar uma carambola ao sonho de ouvir o canto de um sabiá.
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família tem por testemunha a Giaconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de veradade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes
(1901-1975)
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