sexta-feira, agosto 25, 2006

O poeta já tinha feito o seu testamento. Agora, só lhe restava contar um verso.


Testamento do poeta


Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!...
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio
(1901-1969)

Mais sobre José Regio em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_R%C3%A9gio

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