terça-feira, março 30, 2010

Para Almeida Garrettt, o excesso de gozo é dor. E sente que nele exaure-se a vida ou a razão.

Gozo e dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
Não. Ai não; falta-me a vida;
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.

Almeida Garrett

(1799-1854)

Mais sobre Almeida Garret em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Almeida_Garrett

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