quarta-feira, março 17, 2010
Depois de ter as mãos beijadas, Mário de Andrade sente que o seu corpo está são. Sua alma foi-se embora, e o deixou.
Momento
Deve haver aqui perto uma roseira florindo,
Não sei... sinto por mim uma harmonia,
Um pouco de imparcialidade que a fadiga traz consigo.
Olho pra minhas mãos. E um ternura perigosa
Me faz passsar a boca sobre elas, roçando,
(De certo é alguma rosa...)
Numa ternura que não é mais perigosa não, é piedade paciente.
As rosas... Os milhões de rosas paulistanas...
Já tanto que enxerguei minhas mãos trabalhando,
E tapearem por brinquedo umas costas de amigo,
Se entregarem pra inimigo, erguerem dinheiro do chão...
Uma feita meus dedos pousaram nuns lábios,
Nesse momento eu quis ser cego!
Ela não quis beijar a ponta dos meus dedos,
Beijou as mãos, apaixonadamente, em submissão...
Ela beijou o pó das minhas mãos...
O mesmo pó que já desce na rosa nem bem ela se abre.
Deve haver por aqui perto uma roseira florindo...
Que harmonia por mim... Que parecença com jardim...
O meu corpo está são... Minha alma foi-se embora...
E me deixou.
Mário de Andrade
(1893-1945)
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Um comentário:
Belo poema... mãos e rosas. Comprei gerânios hoje, sofrendo com calor. Retirei o plástico quente do arranjo e molhei um pouco as raizes. Respira agora, bem florido, dentro de casa.
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