sábado, dezembro 19, 2009

Tanto Camões de seu estado se acha incerto que em vivo ardor está tremendo de frio. E se alguém lhe pergunta porque assim anda, só ele sabe o por quê.


Tanto de meu estado me acho incerto


Tanto de meu estado me acho incerto
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


Luís Vaz de Camões
(1520-1584)

Mais sobre Luís Vaz de Camões em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Vaz_de_Cam%C3%B5es








Um comentário:

Lilian disse...

Camões não é bolinho. Pode-se fazer uma leitura ligeira, "vendo" ali o que não tem e deixando passar o que há. Será puro anacronismo. Os sonetos de Camões exigem que o leitor abandone o olhar contemporâneo e o que entende por lírica e poesia. E que esqueça a pressa. A dificuldade está em ler Camões "peneirando" um cristianismo salpicado de platonismo e os conceitos da poética antiga, que nos escapam.
Gostei muito do seu blog e estou te "seguindo" (ô, coisa esquisita de se dizer) no Twitter.
Abs.