segunda-feira, dezembro 21, 2009
Mauro Mota passeia pelas assombrações do Recife velho. Onde as cadeiras balançam sem gente, sozinhas, e lobisomens pegam mulheres na Volta ao Mundo.
Assombrações do Recife velho
Cadeiras balançam
sem gente, sozinhas.
Fantasias, rumores
na cama, estilhaços.
Apagam-se os lampiões
de bicos de gás
e as lamparinas
de azeite no quarto.
As rezas das tias,
velas no oratório.
A noite comprida
não acaba mais.
Cavalos, boleeiros,
de fraque e cartola
nas ruas vazias.
A moça encantada
no Encanta-Moça.
O Sobrado-Grande
com assombração.
A ronda do Diabo
na Cruz do Patrão
com fogo nos chifres,
correndo no istmo
de Olinda ao Recife.
Canoas sem remo
no Capibaribe.
Uivos dos cachorros
no fundo dos sítios
e dos lobisomens
pegando as mulheres
na Volta ao Mundo.
Mauro Mota
(1911-1984)
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