sexta-feira, novembro 20, 2009

Ponteando sobre o amigo ruim, Mário de Andrade diz que eles não são mais amigos um do outro não. E sofre, porque o outro é amigo do mar, do rio...


Ponteando sobre o amigo ruim


Enfim a gente não é mais amigo um do outro não.
Você anda fácil, levianinho.
No labirinto das complicações.
Que sutileza! quanta graça dançarina!...
É certo que fica sempre
Bastante pó das asas de você
Nos galhos, nos espinhos,
Até nas flores desse mato...
Mesmo já pus reparo várias vezes
Nas asas de você estragadas pelas beiras...
Porém o essencial, o importante
É que apesar desse estrago inda você pode ver.

Eu não sou assim não.
Sou pesado, bastante estabanado,
Não tenho asa nem muita educação.
Careço de caminho largo, bem direito.
Si* falta espaço, quebro tudo,
Me firo, me fatigo... Afinal caio.
No meio do mato eu paro, não posso mais caminhar.
Não posso mais.
Você...É possível que ainda me chame de amigo...
Mesmo perdendo um bocadinho de asa
Pousa no meu espinheiro e inda pode voar depois.
Mas eu, eu sofro é certo,
Porém já não sou mais amigo de você.

Você é amigo do mar, você é amigo do rio...

Mário de Andrade
(1893-1945)

Mais sobre Mário de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_Andrade


*como no original

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