sábado, novembro 07, 2009
No poema de Antônio Papança, a prostituta levara sempre a vida nas orgias. Por uma dessas noites tresloucadas, encontraram-na morta, abandonada.
Arrependida
Levara sempre a vida nas orgias
e tinha, no seu rosto desbotado,
a feição das noturnas alegrias.
O seu corpo de jaspe cinzelado
tinha as corretas curvas palpitantes,
que o artista mais sublime tem sonhado.
Amava o ouro, as pedras faiscantes,
a branca cigarrilha perfumada
e os aromas dos vinhos espumantes.
Se ria, na sonora gargalhada
descobria-se o irônico azedume
de quem se vê nos charcos atolada.
Seu ardente olhar chispava o lume
que acendam nessas almas desvairadas
o ódio, o desespero e o ciúme.
Por uma dessas noites tresloucadas
encontraram-na morta sobre o leito,
e envolta nas madeixas desgrenhadas.
Tinha o semblante pálido e desfeito,
e a mão gelada e crispa comprimia
um crucifixo de marfim ao peito.
Nos veludos da pálpebra sombria
brilhava inda uma lágrima, a gerada
nos extremos arrancos da agonia.
Finou-se a prostituta abandonada,
e, ao sentir n'alma o último lampejo,
beijou do Cristo a fronte iluminada
e foi-se-lhe a alma presa nesse beijo.
Antônio de Macedo Papança
(1852-1913)
Mais sobre Antônio de Macedo Papança em
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