sexta-feira, dezembro 12, 2008

Se não a vê, Manuel Bandeira sente o desejo crescer de hora em hora. Mas quando ela chega, tão linda e rara, o poeta hesita, balbucia, se acobarda.


Confissão


Se não a vejo e o espírito a afigura,
Cresce este meu desejo de hora em hora...
Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,
O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.

Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...
Abrir-lhe o incerto coração que chora,
Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,
Agora, embevecida e mansa agora...

E é num arroubo em que a alma desfalece
De sonhá-la prendada e casta e clara,
Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...

Mas ela chega, e toda me parece
Tão acima de mim...tão linda e rara...
Que hesito, balbucio e me acobardo.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse blog está virando minha 'coluna' obrigatória de todo dia. Lindo conhecer esses poemas e poetas, descobrir poemas de antigos poetas, reler poemas, esse blog virou um banco de dados de poesia que torna 'banco de dados' uma palavra mais líquida, mais interessante. Adoro tudo aqui!