Canção do Expedicionário
Rapsódia que cantaram os soldados brasileiros nos campos de batalha da Europa
I
Venho do morro, do engenho,
das selvas, dos cafezais,
da boa terra do coco,
da choupana onde um é pouco,
dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas,
das montanhas alterosas,
do pampa, do seringal,
das margens crespas dos rios,
dos verdes mares bravios
de minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
não permita Deus que eu morra
sem que volte para lá;
sem que leve por divisa
esse "V" que simboliza
a vitória que virá:
Nossa vitória final,
que é a mira do meu fuzil,
a ração do meu bornal,
a água do meu cantil,
as asas do meu ideal,
a glória do meu Brasil!
II
Eu venho da minha terra,
da casa branca da serra
e do luar do meu sertão;
venho da minha Maria
cujo nome principia
na palma da minha mão.
Braços mornos de Moema,
lábios de mel de Iracema
estendidos para mim!
Ó minha terra querida
da Senhora Aparecida
e do Senhor do Bonfim!
Por mais terras que eu percorra,
não permita Deus que eu morra
sem que volte para lá;
sem que leve por divisa
esse "V" que simboliza
a vitória que virá:
Nossa vitória final,
que é a mira do meu fuzil,
a ração do meu bornal,
a água do meu cantil,
as asas do meu ideal,
a glória do meu Brasil.
III
Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho
no bojo do meu violão;
que de viver em meu peito
foi até tomando o jeito
de um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreiro,
meu limão, meu limoeiro,
meu pé de jacarandá,
minha casa pequenina
lá no alto da colina,
onde canta o sabiá.
Por mais terras que eu percorra,
não permita Deus que eu morra
sem que volte para lá;
sem que leve por divisa
esse "V" que simboliza
a vitória que virá:
Nossa vitória final,
que é a mira do meu fuzil,
a ração do meu bornal,
a água do meu cantil,
as asas do meu ideal,
a glória do meu Brasil.
IV
Venho do além desse monte
que ainda azula o horizonte,
onde o nosso amor nasceu;
do rancho que tinha ao lado
um coqueiro que, coitado,
de saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
do mais dourado amarelo,
do azul mais cheio de luz,
cheio de estrelas prateadas
que se ajoelham deslumbradas,
fazendo o sinal da Cruz !
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
(1890-1969)
Mais sobre Guilherme de Almeida em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilherme_de_Almeida
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