terça-feira, junho 26, 2007
Foi noite de chuva nos mares do mundo. Se tivesse um barco, Ribeiro Couto teria partido naquele instante.
Cais matutino
Mercado de peixe, mercado de aurora:
Cantigas, apelos, pregões e risadas
À proa dos barcos que chegam de fora.
Cordames e redes dormindo no fundo;
À popa estendida, as velas molhadas;
Foi noite de chuva nos mares do mundo.
Pureza do largo, pureza da aurora.
Há viscos de sangue no solo da feira.
Se eu tivesse um barco, partiria agora.
O longe que aspiro no vento salgado
Tem gosto de um corpo que cintila e cheira
Para mim sozinho, num mar ignorado.
Ribeiro Couto
(1898-1963)
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