quinta-feira, abril 05, 2007

O poeta amava este inferno de amar, que é vida e que a vida destrói. Que fez ela, que fiz eu? Não o sei, mas nessa hora a viver comecei, reconhece.


Este inferno de amar

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando, ai, quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim, despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garret

(1799-1854)

Mais sobre Almeida Garrett em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Almeida_Garrett

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