terça-feira, abril 03, 2007
Naqueles dias de terror e escuridão, Gullar chegou a dizer adeus à ilusão, mas não ao mundo. Mas não à vida, e foi construir um poema, uma bandeira.
Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro - Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira
Ferreira Gullar
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2 comentários:
retiramos algo e com ele (constrímos) um artefato
*retiramos algo e com ele (construímos) um artefato
Muito obrigado pela correção de nossa falha de digitação. É de coloborações como a sua que precisamos para manter o nível de qualidade do Poemblog.
Obrigado, mais uma vez,
O Editor
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