quinta-feira, abril 05, 2007

Em seus versos, o poeta deixa a vida como deixa o tédio. E fez um último pedido para que escrevessem em sua cruz: Foi poeta, sonhou e amou a vida...


Tristeza

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como um desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia...
Só levo um saudade - é um desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz - e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida...

Álvares de Azevedo

(1831-1852)

Mais sobre Álvares de Azevedo em

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvares_de_Azevedo

Um comentário:

Ana Claudia disse...

"Eu deixo a vida, como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro"


Álvares é simplesmente perfeito!

Abraço!