segunda-feira, abril 09, 2007

Em seu canto de dor, o poeta recorda como Garcia Lorca soube enfrentar a morte. E como jorrou o vermelho, cor do mito criado com a força humana.


Canto a Garcia Lorca


Não basta o sopro do vento

Nas oliveiras desertas,

O lamento de água oculta

Nos pátios de Andaluzia.


Trago-te o canto poroso

O lamento consciente

Da palavra à outra palavra

Que fundaste com rigor.


O lamento substantivo

Sem ponto de exclamação

Diverso do rio antigo,

Une a aridez ao fervor.


Recordando que soubeste

Defrontar a morte seca

Vinda no gume certeiro

Da espada silenciosa

Fazendo irromper o jacto


De vermelho: cor do mito

Criado com a força humana

Em que sonho e realidade

Ajustam seu contraponto.


Consolo-me da tua morte

Que ela nos elucidou

Tua linguagem corporal

Onde el duende é alimentado

Pelo sal da inteligência,

Onde Espanha é calculada

Em número, peso e medida.


Murilo Mendes
(1901-1975)

Mais sobre Murilo Mendes em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Murilo_Mendes