sábado, julho 31, 2010
O Dia da Criação, segundo Vinicius de Moraes. Porque hoje é sábado.
O Dia da Criação
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitivamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
(1913-1980)
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sexta-feira, julho 30, 2010
No tempo em que festejavam o dia dos seus anos, Álvaro de Campos era feliz e ninguém estava morto.Restou a raiva de não ter trazido o passado roubado.
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
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quinta-feira, julho 29, 2010
Se não a vê, Manuel Bandeira sente o desejo crescer de hora em hora. Mas quando ela chega, tão linda e rara, o poeta hesita, balbucia, se acobarda.
Confissão
Se não a vejo e o espírito a afigura,
Cresce este meu desejo de hora em hora...
Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,
O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...
Abrir-lhe o incerto coração que chora,
Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,
Agora, embevecida e mansa agora...
E é num arroubo em que a alma desfalece
De sonhá-la prendada e casta e clara,
Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...
Mas ela chega, e toda me parece
Tão acima de mim...tão linda e rara...
Que hesito, balbucio e me acobardo.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
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quarta-feira, julho 28, 2010
Mario Quintana diz que há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas. Como este poema, este pobre poema sem fim...
Elegia
Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...
Uma velhinha sozinha numa gare.
Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
Da mais absoluta viuvez.
As recordações das solteironas.
Essas gravatas
De um mau gosto tocante
Que nos dão as velhas dias.
As velhas tias.
Um novo parente que se descobre.
A palavra "quincúncio".
Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.
Um cachorro anônimo que resolver ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.
Este poema, este pobre poema
Sem fim...
Mario Quintana
(1906-1994)
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terça-feira, julho 27, 2010
Depois de ler este poema, fica a impressão de que Carlos Drummond de Andrade não era apenas um. Era também um outro, um que só aquela mulher conheceu.
A língua lambe
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
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segunda-feira, julho 26, 2010
Cecília Meireles diz em versos o que é e o que não é preciso esquecer. O resto não nos pertence.
É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.
Cecília Meireles
(1901-1964)
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domingo, julho 25, 2010
Fernando Pessoa não sabe se é sonho, se realidade, se uma mistura de sonho e vida. Mas sabe que ali, ali, a vida é jovem e o amor sorri.
Não sei
Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter,
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra, também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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sábado, julho 24, 2010
Nos olhos do seu amor, Florbela deixou, um dia, muito mais do que os seus tesouros. E vê, do leito de núpcias irreais, seu túmulo de morta.
Teus olhos
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do céu à minha porta...
ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu suntuoso túmulo de morta!...
Florbela Espanca
(1894-1930)
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sexta-feira, julho 23, 2010
Bertolt Brecht diz que bom é o esquecimento. Para ele, a fraqueza da memória é a força do homem.
Elogio do esquecimento
Bom é o esquecimento!
Senão como se afastaria o filho
Da mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros
E o impede de experimentá-la.
Ou como deixaria o aluno
O professor que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O aluno tem que se pôr a caminho.
Para a velha casa
Mudam-se os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá vivessem
A casa seria pequena demais.
O forno esquenta. Já não se sabe
Quem foi o oleiro. O plantador
Não reconhece o pão.
Como se levantaria pela manhã o homem
Sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
Aquele derrubado seis vezes
Para lavar o chão pedroso, voar
O céu perigoso?
A fraquesa da memória
Dá força ao homem.
Bertolt Brecht
(1898-1956)
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quinta-feira, julho 22, 2010
Manoel de Barros ocupa muito dele com o seu desconhecer. E confessa ser um sujeito letrado em dicionários.
Ocupo muito de mim com o meu desconhecer
Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais ou
no Viterbo -
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc
Etc
Etc
Maior que o infinito é a encomenda.
Manoel de Barros
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quarta-feira, julho 21, 2010
Em sua toada sem álcool, Mário de Andrade sente a certeza de ser nesta vida fingimento de alguém nas artes. Antes fraco covarde diante desta vida.
Certeza de ser nesta vida
Fingimento de alguém nas artes,
Antes fraco inerme covarde,
Covarde diante desta vida.
Chuçadas e lapos berrantes,
Klaxon, terror! sem automóvel...
Antes triste traste covarde
Diante dos morros desta vida.
Ninguém sabe da solitude
Que enche o meu peito sem emprego,
O qual comunga todo dia
Na missa-baixa do abandono.
Mas, rapazes, não tenho a culpa
De ter faltado em minha vida
O amigo que me defendesse,
Aquele que eu defenderia.
Mário de Andrade
(1893-1945)
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terça-feira, julho 20, 2010
A vida sempre foi boa comigo. Quando soube que o meu coração estava carregado de sombras, abriu uma janela no meu peito.
A janela encantada
A vida sempre foi boa comigo.
Quando soube que o meu coração
estava carregado de sombras,
e que ele só se alimentava de luz,
abriu uma janela no meu peito
para que por ela possam entrar
o resplendor do orvalho,
o fulgor das estrelas
e o invisível arco-íris do amor.
Thiago de Mello
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segunda-feira, julho 19, 2010
Só o grande poeta João Cabral de Melo para definir em versos como estes toda a beleza do futebol de Ademir da Guia, o "Divino"...
Ademir da Guia
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irriquieto adversário.
João Cabral de Melo
(1920-1999)
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domingo, julho 18, 2010
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. E com mais sossego amemos a nossa incerta vida, diz Ricardo Reis à sua Lídia.
Cada coisa
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo!
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta viva.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo.
E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do sol).
Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outro compúnhamos
Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos
E há só noite lá fora.
Ricardo Reis, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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sábado, julho 17, 2010
Já não preciso de rir. E deveria rir das tormentas que marcaram a minha alma e dos desastres que erraram o meu corpo, no dizer de Guimarães Rosa.
Consciência cósmica
Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do redemoinho da grande força,
que agira flui, feroz, dentro e fora de mim...
Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem de deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...
Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...
Guimarães Rosa
(1908-1967)
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sexta-feira, julho 16, 2010
Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter, sou o embriagado de ti e por ti. E mil dedos apontam Murilo Mendes na rua, o homem fanático por uma mulher.
Poema do fanático
Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter,
Sou o embriagado de ti e por ti.
Mil dedos me apontam na rua:
Eis o homem que é fanático por uma mulher.
Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim
Porque eu amo tudo o que vem de ti.
Amo-te na tua miséria e na tua glória
E te amaria mais ainda se sofresses muito mais.
Caíste em fogo na minha vida de rebelado.
Sou insensível ao tempo - porque tu existes.
Eu sou fanático da tua pessoa,
Da tua graça, do teu espírito, do aparelhamento da tua vida.
Eu quisera formar uma unidade contigo
E me extinguir violentamente contigo na febre da minha, da tua, da nossa poesia.
Murilo Mendes
(1901-1975)
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quinta-feira, julho 15, 2010
Cecília Meireles desaprende hoje o que tinha aprendido até ontem. E que amanhã recomeçará a aprender.
Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem
Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem
e que amanhã recomeçarei a aprender.
Todos os dias desfaleço e desfaço-me em cinza efêmera:
todos os dias reconstruo minhas edificações, em sonho eternas.
Esta frágil escola que somos, levanto-a com paciência
dos alicerces às torres, sabendo que é trabalho sem termo.
E do alto avisto os que folgam e assaltam, donos de riso e pedras.
Cada um de nós tem sua verdade, pela qual deve morrer.
De um lugar que não se alcança, e que é, no entanto, claro,
minhas verdades, sem troca, sem equivalência nem desengano
permanece constante, obrigatório, livre:
enquanto aprendo, desaprendo e torno a reaprender.
Cecília Meireles
(1901-1964)
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quarta-feira, julho 14, 2010
Para Vinicius, aquela mulher era um mundo, uma cadela, que dizia versos, votos de amor e nomes feios. Mas na cama nunca mulher nenhuma foi tão bela.
Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez... – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
(1913-1980)
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terça-feira, julho 13, 2010
Como contigo eu chego a mim, disse Manuel Bandeira. E nada mais precisou dizer.
Contigo, comigo
Como contigo
Eu chego a mim!
Como me trazes
A esfera imensa
Do mundo meu
E toda a encerras
Dentro de mim!
Como contigo
Eu chego a mim!
Ah como pões
Dentro de mim
A flor, a estrela,
O vento, o sol,
A água, o sonho!...
Como contigo
Eu chego a mim!
Manuel Bandeira
(1886-1968)
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segunda-feira, julho 12, 2010
O Imperador nomeou o primo de Drummond governador do Rio Grande Norte, onde nunca pusera os pés. Aí, proclamaram a República...
Malogro
Primo Zé Antônio chefe político liberal
foi tudo em Minas
advogado
jornalista
inspetor de instrução
juiz de paz
suplente de juiz municipal
diretor juvenil de colégio
provedor de hospital
presidente de Câmara Municipal
deputado
senador
comendador.
Quando Sua Majestade o despachou governador do
Rio Grande do Norte
onde nunca pusera os pés
proclamou-se levianamente a República.
Natal não conheceu um grande administrador.
Meu primo não cumpriu o seu destino.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
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domingo, julho 11, 2010
Para Álvaro de Campos, ter deveres é uma prolixa coisa. Mas ele tem desejo forte, e o seu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
O ter deveres
O ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rocio, tabuleiro superior - despedida.
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, Paris...
Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...
Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Qee leve a minha vida dentro, arre, quando desscarrile!...
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Álvaro de Campos, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
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sábado, julho 10, 2010
Nascer, nasci em 1922, morrer, morri em mil novecentos e depois. É assim que Paulo Mendes Campos dá início aos seus motes no infinito.
Motes no infinito
nascer, nasci em 1922,
morrer, morri em mil novecentos e depois
as castanhas que me faltaram no frio de 37 em Barbacena
encontrei-as no outono de 49 no cais do Sena
ai flores, ai flores do verde pino
agora que sei que sou um menino
senhora de corpo delgado
nem todo jejum é sagrado
este livro que sempre se manteve fechado
de repente se me abriu de lado a lado
sem dor a árvore do papel
não se livra do mal do mel
eu nem sei quem dantes era
mesmo assim telefono à primavera
pré-história... história... pós-história...
e o borbulhar enfim da festa sem memória...
quem vinha de flor
não me deu amor
é ela que se manda a meu pesar
tão logo aquele Jumbo decolar
é do inferno do pobre (diz Hugô)
que é feito o paraíso do robô
não me dá amor vagar
no Arpoador sem parar
de calça à luz conivente
vai Leonor transparente
saudoso-imaginoso disse o mestre:
guerra como a de Tróia, nunca mais!
se meu amigo viesse e me visse,
se rindo de mim, diria, não disse!?
quem o mundo juntou sem ter partido
é comuna (Jesus) da linha justa
ao vagaroso passo dos meus bois
vou no meu vir-a-ser-antes-depois
poesia, bizarro contrabando
que seres fronteiriços vão passando
senhora mui louçã a quem chamei de flor
me disse alto e bom som: ora, não enche, pô!
aqui em Beagá, do alto dos picos,
sem dizer a ninguém crio o Dia do Fícus
minha mãe velida,
vê no que deu minha vida!
quando la festa è finita subito o lenta
il silenzio di ceneroni me spaventa
senhora formosa, por meu mal
ando em regime de amor e sal
descalça vai para a praia
Leonor, de biquíni de cambraia
quem pretende ir-se embora quando passa
lindo filme de bruma na vidraça?
sonhos, quem não os tem quando a garoa
de São Paulo nos leva à vida à-toa
meu ser evaporei na lida insana
que no meu tempo foi Copacabana
eu vi a Gioconda em Paris:
mamona lisa nunca vi
foi-se o perjurado, sumiu de Ipanema
sem deixar recado, sem telefonema
busca: não acharás a poesia:
vai-se o voar a pomba da palavra
busca: talvez acharás a poesia
quando o vôo sem pomba regressar
quem Jânio Quadros não entende
entender o mundo e seu pai pretende
amiga, tive recado
de seu amigo (coytado!)
a prosa de Malherbe não durou
o espaço duma rosa tipográfica
- ay Deus, val! - tudo legal?
- tudo legal! - ay Deus, val!
trespassa a nossa pálpebra a festa solar:
quando for noite, abrir os olhos devagar
dizia la bem talhada:
que gana de feijoada!
em caso de pasto disse a fremosinha:
quero filé grelhado sem batatinha
quando é hora do rush, o sol se esconde
e a passarada que não sabe aonde
senhora, agora, vos rogo, sem demora,
o meu coração Mendes tá na hora
na ribeira do rio vento frio
faz no meu rosto rugas quando rio
erros meus, má fortuna, amor ardente,
mais uma espondilose recumbente
terras lindas que (quanto tempo!) percorri
andam hoje a fazer turismo em mim
rio dos rios todos que vi ou não vi:
das barracas de Logos, nunca sou daqui
O poeta vende um pano tão diverso
que a seu reverso dá nome de verso
Paulo Mendes Campos
(1922-1991)
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sexta-feira, julho 09, 2010
Na mesa do café, Mário de Sá-Carneiro busca os traços da sua vida passada. E espera a vida que nunca vem ter com ele.
Cinco Horas
Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto...A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e que fresca é!
Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu corpo cheio
Duma bebida ligeira.
(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais).
Sobre ela posso escrever
Os meus versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...
Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.
Ou acendendo cigarros,
- Pois há um ano que fumo -
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.
(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente...).
Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.
E o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.
Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...
(Que história d'Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...).
Nos Cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
- Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.
Passar tempo é o meu fito,
Ideal que me resta
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.
- Cafés da minha preguiça,
Sois hoje, que galardão!-
Todo o meu tempo de acção
E toda a minha cobiça.
Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
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quinta-feira, julho 08, 2010
Bom dia.
Ocorrência
Aí o homem sério entrou e disse: bom dia
Aí o outro homem sério respondeu: bom dia
Aí a mulher séria respondeu: bom dia
Aí a menininha no chão respondeu: bom dia
Aí todos riram de uma vez
Menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores, as paredes,
o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, o mata-borrão, os
sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços.
Ferreira Gullar
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quarta-feira, julho 07, 2010
Na canção paralela de Mario Quintana, havia um coraçãozinho que batia assustado, assustado. E um coração tão duro que era como se tivesse parado.
Canção paralela
Por uma escada que levava até o rio...
Por uma escarpa que subia até as nuvens...
Pezinhos nus
Desceram...
Mãos nodosas
Grimparam...
E havia um coraçãozinho que batia assustado, assustado...
E um coração tão duro que era como se tivesse parado...
Um escorria fel...
O outro, lágrimas...
No rosto dele havia sulcos como de arado...
No rosto dela a boca era uma flor machucada...
E até a morte os separou!
Mario Quintana
(1906-1994)
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terça-feira, julho 06, 2010
Leminski não discute com o destino. O que pintar ele assina.
Não discuto
Não discuto
com o destino
O que pintar
eu assino
Paulo Leminski
(1944-1989)
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segunda-feira, julho 05, 2010
Aquele morreu amando. Para Drummond, ele morreu completo, no êxtase de estar no mundo e extramundo.
Morto vivendo
Aquele morreu amando.
Nem sentiu chegar a morte
quando à vida se abraçava
nem a morte o castigou.
Enquanto beijava o amor
a morte o foi transportando
nos braços do amor gozoso
sem desatar-se a cadeia
de vida enganchada em vida.
Aquele morreu? Quem sabe
o que foi feito do amante
alçado em coche de chamas
ou carruagem de cinzas
no ato pleno de amar?
Não corrigiu a postura,
não voltou aos intervalos
de solitude na espera,
não repetiu mais os gestos
fora do rito amoroso.
Morreu completo, no êxtase
de estar no mundo e extramundo.
Que sabe a morte do abraço
paralizado na luz
do quarto aberto ao amor
e defeso a tudo mais?
E se continua vivo
e mais do que vivo amando
sem paredes e sem ossos
nos vazios espaciais,
não sei como, não sei quem?
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
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domingo, julho 04, 2010
Náusea, vontade de nada, existir por não morrer. Náusea, mais náusea, Fernando Pessoa tem este modo de ser.
Náusea
Náusea. Vontade de nada.
Existir por não morrer.
Como as casas têm fachada,
Tenho este modo de ser.
Náusea. Vontade de nada.
Sento-me à beira da estrada.
Cansado já no caminho
Passo pra o lugar vizinho.
Mais náusea. Nada me pesa
Senão a vontade presa
Do que deixei de pensar
Como quem fica a olhar...
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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sábado, julho 03, 2010
Os índios procuraram e não encontraram, os revolucionários do meu tempo também. Como Sophia de Mello Breyner, também pergunto: será ainda possível?
O país sem mal
Um etnólogo diz ter encontrado
Entre selvas e rios depois de longa busca
Una tribo de índios errantes
Exaustos exauridos semimortos
Pois tinham partido desde há longos anos
Percorrendo florestas desertos e carpinas
Subindo e descendo montanhas e colinas
Atravessando rios
Em busca do país sem mal -
Como os revolucionários do meu tempo
Nada tinham encontrado
Sophia de Mello Breyner
(1919=2004)
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sexta-feira, julho 02, 2010
Com meu Cantar, supero o Desespero, sou contra a Morte e nunca hei de morrer. Por isso, não vou nunca envelhecer, diz Ariano Suassuna em seus versos.
Abertura sob pele de ovelha
Falso Profeta, insone, Extraviado,
Vivo, Cego, a sondar o Indecifrável:
e, jaguar da Sibila - inevitável,
meu Sangue traça a rota desse Fado.
Eu, forçado a ascender, eu, Mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu Pasto - incendiado.
Por sobre a Dor, Sarça do Espinheiro
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em Candelabro e Veiro.
Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer.
Ariano Suassuna
(1927)
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quinta-feira, julho 01, 2010
Hitler, o pintor de paredes nada estudou senão pintura. E quando lhe deixaram dar uma mão, a Alemanha inteira ele logrou.
Canção do pintor Hitler
1.
Hitler, o pintor de paredes
Disse: Caros amigos, deixem eu dar uma mão!
E com um balde de tinta fresca
Pintou como nova a casa alemã
Nova a casa alemã.
2.
Hitler, o pintor de paredes
Disse: Fica pronta num instante!
E os buracos, as falhas e as fendas
Ele simplesmente tapou
A merda inteira tapou.
3.
Ó Hitler pintor
Por que não tentou ser pedreiro?
Quando a chuva molha sua tinta
Toda a imundície vem abaixo
Sua casa de merda vem abaixo.
4.
Hitler, o pintor de paredes
Nada estudou senão pintura
E quando lhe deixaram dar uma mão
Tudo o que fez foi um malogro
E a Alemanha inteira ele logrou.
Bertolt Brecht
(1898-1956)
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