quarta-feira, julho 28, 2010

Mario Quintana diz que há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas. Como este poema, este pobre poema sem fim...


Elegia

Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...
Uma velhinha sozinha numa gare.
Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
Da mais absoluta viuvez.
As recordações das solteironas.
Essas gravatas
De um mau gosto tocante
Que nos dão as velhas dias.
As velhas tias.
Um novo parente que se descobre.
A palavra "quincúncio".
Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.
Um cachorro anônimo que resolver ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.
Este poema, este pobre poema
Sem fim...

Mario Quintana
(1906-1994)

Mais sobre Mario Quintana em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

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