tag:blogger.com,1999:blog-245546472024-03-14T03:15:35.806-03:00POEMBLOGUnknownnoreply@blogger.comBlogger3788125tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-18397574693019158212017-01-03T16:00:00.000-02:002017-01-03T16:02:07.859-02:00Paulo Henriques Britto foi jovem, com a sede de todos, adolesceu. Depois, como de direito, endureceu.<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b>Geração Paissandu</b></span><br />
<br />
Vim, como todo mundo,<br />
do quarto escuro da infância,<br />
mundo de coisas e ânsias indecifráveis,<br />
de só desejo e repulsa.<br />
Cresci com a pressa de sempre.<br />
<br />
Fui jovem, com a sede de todos,<br />
em tempo de seco fascismo.<br />
Por isso não tive pátria, só discos.<br />
Amei, como todos pensam.<br />
Troquei carícias cegas nos cinemas,<br />
li todos os livros, acreditei<br />
em quase tudo por ao menos um minuto,<br />
provei do que pintou, adolesci. <br />
<br />
Vi tudo que vi, entendi como pude.<br />
Depois, como de direito,<br />
endureci. Agora a minha boca<br />
não arde tanto de sede.<br />
As minhas mãos é que coçam -<br />
vontade de destilar<br />
depressa, antes que esfrie,<br />
esse caldo morno da vida.<br />
<b><br /></b>
<b>Paulo Henriques Britto</b><br />
(1951)<br />
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Henriques_Britto<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-90922803355093362592017-01-02T15:21:00.000-02:002017-01-02T15:35:10.242-02:00Mario Quintana queria trazer uns versos muito lindos para o seu amor. Mas ele nunca soube o que dizer e o poema foi morrendo como uma vela chinesa que apagou. <br />
<span style="font-size: large;"><b>Eu queria trazer-te uns versos muito lindos</b></span><br />
<br />
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos.<br />
colhidos no mais íntimo de mim...<br />
Suas palavras<br />
seriam as mais simples do mundo,<br />
porém não sei que luz as iluminaria<br />
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...<br />
Sim! uma luz que viria de dentro delas,<br />
como essa que acende inesperadas cores<br />
nas lanternas chinesas de papel.<br />
Trago-te palavras, apenas...e que estão escritas<br />
do lado de fora do papel...<br />
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te<br />
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento<br />
da Poesia...<br />
como<br />
uma pobre lanterna que incendiou!<br />
<br />
<b>Mario Quintana</b><br />
(1906-1994)<br />
<br />
Mais sobre Mario Quintana em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana">http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-45367399470239903152016-02-01T02:00:00.000-02:002016-02-02T16:16:18.841-02:00Para Leminski, o céu revolto pode ser o seu vulto. Ou a sua volta. <span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">você</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">que a gente chama</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">quando gama</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">quando está com medo</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">e mágua"</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">quando está com sede</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">e não tem água</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">você</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">só você</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">que a gente segue</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">até que acaba</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">em cheque</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">ou em chamas</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">qualquer som</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">qualquer um</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">pode ser tua voz</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">teu zum-zum-zum</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">todo susto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">sob a forma</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">de um súbito arbusto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">seixo solto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">céu revolto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">pode ser teu vulto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">ou tua volta.</span></span><br />
<br />
<b>Paulo Leminski</b><br />
(1944-1989)<br />
<br />
Mais sobre Paulo Leminski em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski">http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-31154037530323708092016-01-15T02:00:00.000-02:002016-01-15T18:44:39.908-02:00Ana Cristina Cesar demite o verso como quem acena. E vive como quem despede a raiva de ter visto.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Psicografia</b></span><br />
<br />
Também eu saio à revelia<br />
e procuro uma síntese nas demoras<br />
cato obsessões com fria têmpera e digo <br />
do coração: não soube e digo<br />
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar <br />
na vida) e demito o verso como quem acena <br />
e vivo como quem despede a raiva de ter visto<br />
<br />
<span style="font-size: 13.9099998474121px; font-weight: bold; line-height: 1.6em;">Ana Cristina Cesar</span><br />
(1952-1083)<br />
<br />
Mais sobre Ana Cristina Cesar em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Cristina_Cesar" style="color: #7f7f7f; text-decoration: none;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Cristina_Cesar</a> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-74016911057237819952016-01-02T02:00:00.000-02:002016-01-03T17:52:44.656-02:00Ao ver a felicidade que há na casa defronte, Álvaro de Campos sente que as pessoas que moram ali são felizes porque não são ele. É um nada que dói.<br />
<b><span style="font-size: large;"><span class="st">Na casa defronte de mim e dos meus sonhos</span></span></b><br />
<br />
<br />
Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,<br />
Que felicidade há sempre!<br />
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.<br />
São felizes, porque não sou eu.<br />
As crianças, que brincam às sacadas altas,<br />
Vivem entre vasos de flores,<br />
Sem dúvida, eternamente.<br />
As vozes, que sobem do interior do doméstico,<br />
Cantam sempre, sem dúvida.<br />
Sim, devem cantar.<br />
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.<br />
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —<br />
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.<br />
Que grande felicidade não ser eu!<br />
Mas os outros não sentirão assim também?<br />
Quais outros? Não há outros.<br />
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,<br />
Ou, quando se abre,<br />
É para as crianças brincarem na varanda de grades,<br />
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.<br />
Os outros nunca sentem.<br />
Quem sente somos nós,<br />
Sim, todos nós,<br />
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.<br />
Nada! Não sei...<br />
Um nada que dói<br />
<br />
Álvaro de Campos, um dos heterônimos de<br />
<b><br /></b>
<b>Fernando Pessoa</b><br />
(1888-1935)<br />
<br />
Mais sobre Fernando Pessoa em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa">http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-22503930669229273632015-12-31T02:00:00.000-02:002015-12-31T12:41:47.330-02:00Drummond diz que para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você tem de fazê-lo novo. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Receita de Ano Novo </b></span><br />
<br />
Para você ganhar belíssimo Ano Novo<br />
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,<br />
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido<br />
(mal vivido talvez ou sem sentido)<br />
para você ganhar um ano<br />
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,<br />
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,<br />
novo<br />
até no coração das coisas menos percebidas<br />
(a começar pelo seu interior)<br />
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,<br />
mas com ele se come, se passeia,<br />
se ama, se compreende, se trabalha,<br />
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,<br />
não precisa expedir nem receber mensagens<br />
(planta ou recebe mensagens?<br />
passa telegramas?).<br />
Não precisa fazer lista de boas intenções<br />
para arquivá-las na gaveta.<br />
Não precisa chorar de arrependido<br />
pelas besteiras consumadas<br />
nem parvamente acreditar<br />
que por decreto da esperança<br />
a partir de janeiro as coisas mudem<br />
e seja tudo claridade, recompensa,<br />
justiça entre os homens e as nações,<br />
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,<br />
direitos respeitados, começando<br />
pelo direito augusto de viver.<br />
Para ganhar um ano-novo<br />
que mereça este nome,<br />
você, meu caro, tem de merecê-lo,<br />
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,<br />
mas tente, experimente, consciente.<br />
É dentro de você que o Ano Novo<br />
cochila e espera desde sempre.<br />
<br />
<span style="font-weight: bold;">Carlos Drummond de Andrade</span><br />
(1902-1987)<br />
<br />
Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade">http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-80469392715574558692015-12-24T02:00:00.000-02:002015-12-24T14:55:45.778-02:00Poema de Natal, de Vinícius de Moraes, por ele mesmo. Para lembrar e ser lembrados. <div style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;">
<b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; line-height: 22.256px;">
<b><span style="font-size: large;">Poema de Natal</span></b><br /><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para isso fomos feitos:</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para lembrar e ser lembrados,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para chorar e fazer chorar,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para enterrar os nossos mortos -</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Por isso temos braços longos para os adeuses,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Mãos para colher o que foi dado,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Dedos para cavar a terra.</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Assim será a nossa vida;</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Uma tarde sempre a esquecer,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Uma estrela a se apagar na treva,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Um caminho entre dois túmulos -</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Por isso precisamos velar,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Falar baixo, pisar leve, ver</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">A noite dormir em silêncio.</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Não há muito que dizer:</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Uma canção sobre um berço,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Um verso, talvez, de amor,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Uma prece por quem se vai -</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Mas que essa hora não esqueça</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">E que por ela os nossos corações</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Se deixem, graves e simples.</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Pois para isso fomos feitos:</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para a esperança no milagre,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para a participação da poesia,</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Para ver a face da morte -</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">De repente, nunca mais esperaremos...</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Hoje a noite é jovem; da morte apenas</span><br /><span style="font-size: 13.91px;">Nascemos, imensamente.</span></div>
<br style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;" /><strong style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia; font-size: 10.5pt; line-height: 22.256px;">Vinícius de Moraes</strong><br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;">
<span style="font-family: Georgia;"><span style="font-size: 10.5pt;">(1913-1980)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;">
<span style="font-family: Georgia;"><span style="font-size: 10.5pt;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;">
<span style="font-family: Georgia;"><span style="font-size: 10.5pt;">Mais sobre Vinícius de Moraes em</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.91px; line-height: 22.256px;">
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes" style="color: #7f7f7f; text-decoration: none;"><span style="font-family: Georgia;"><span style="font-size: 10.5pt;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes</span></span></a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-87743712686478922372015-12-21T02:00:00.000-02:002015-12-21T14:45:34.198-02:00Agora vou-me. Ou me vão? Ou é vão ir ou não ir? Drummond e suas dúvidas em sua canção final.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Canção final</b></span><br />
<br />
Oh! se te amei, e quanto!<br />
Mas não foi tanto assim.<br />
Até os deuses claudicam<br />
em nugas de aritmética.<br />
Meço o passado com régua<br />
de exagerar as distâncias.<br />
Tudo tão triste, e o mais triste<br />
é não ter tristeza alguma.<br />
É não venerar os códigos<br />
de acasalar e sofrer.<br />
É viver tempo de sobra<br />
sem que me sobre miragem.<br />
Agora vou-me. Ou me vão?<br />
Ou é vão ir ou não ir?<br />
Oh! se te amei, e quanto,<br />
quer dizer, nem tanto assim.<br />
<br />
<b>Carlos Drummond de Andrade</b><br />
(1902-1987)<br />
<br />
Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade">http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade</a> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-42544199610624692602015-12-19T02:00:00.000-02:002015-12-19T02:00:05.188-02:00Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Eu simplesmente sinto com a imaginação, não uso o coração, admite Fernando Pessoa.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Isto</b></span><br />
<br />
Dizem que finjo ou minto<br />
Tudo que escrevo. Não<br />
Eu simplesmente sinto<br />
Com a imaginação.<br />
Não uso o coração.<br />
<br />
Tudo o que sonho ou passo,<br />
O que me falha ou finda,<br />
É como que um terraço<br />
Sobre outra coisa ainda.<br />
Essa coisa é que é linda.<br />
<br />
Por isso escrevo em meio<br />
Do que não está ao pé,<br />
Livre do meu enleio,<br />
Sério do que não é.<br />
Sentir? Sinta quem lê!<br />
<br />
<b>Fernando Pessoa</b><br />
(1888-1935)<br />
<br />
Mais sobre Fernando Pessoa em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa">http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-20509226875389730272015-12-16T02:00:00.000-02:002015-12-16T16:17:53.089-02:00Manoel de Barros não quer saber como as coisas se comportam, quer inventar comportamento para as coisas. Apenas ele não tem polimentos de ancião.<br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">
</span></span> <span style="font-size: large;"><b><span style="font-family: inherit;">Comportamento</span></b></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span> <span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Não quero saber como as coisas se comportam.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Quero inventar comportamento para as coisas.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Li uma vez que a tarefa mais lídima da poesia é a</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">de equivocar o sentido das palavras</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Não havendo nenhum descomportamento nisso</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">senão que alguma experiência linguística.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Noto que às vezes sou desvirtuado a pássaros, que</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">sou desvirtuado em árvores, que sou desvirtuado</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">para pedras.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Mas que essa mudança de comportamento gental</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">para animal vegetal ou pedral</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">É apenas um descomportamento semântico.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Se eu digo que grota é uma palavra apropriada para</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">ventar nas pedras,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Apenas faço o desvio da finalidade da grota que</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">não é a de ventar nas pedras.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Se digo que os passarinhos faziam paisagens na</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">minha infância,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">É apenas um desvio das tarefas dos passarinhos que</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">não é a de fazer paisagens.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Mas isso é apenas um descomportamento linguístico que</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">não ofende a natureza dos passarinhos nem das grotas.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Mudo apenas os verbos e às vezes nem mudo.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Mudo os substantivos e às vezes nem mudo.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Se digo ainda que é mais feliz quem descobre o que não</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">presta do que quem descobre ouro – </span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Penso que ainda assim não serei atingido pela bobagem.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Apenas eu não tenho polimentos de ancião.</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: inherit;"></span><br />
<div>
<span style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: "georgia" , "times" , serif; font-size: 13.9099998474121px; font-weight: bold; line-height: 22.2560005187988px;">Manoel de Barros</span><br />
<span style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: "georgia" , "times" , serif; font-size: 14px; line-height: 22.2560005187988px;">(1916-2014)</span><br />
<br style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.9099998474121px; line-height: 22.2560005187988px;" />
<span style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: "georgia" , "times" , serif; font-size: 13.9099998474121px; line-height: 22.2560005187988px;">Mais sobre Manoel de Barros em</span><br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros" style="background-color: white; color: #7f7f7f; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 13.9099998474121px; line-height: 22.2560005187988px; text-decoration: none;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros</a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-18945902423099216642015-12-15T02:00:00.000-02:002015-12-15T18:14:16.957-02:00Faça qualquer coisa, mas pelo amor de Deus, ou de nós dois, seja. É só o que pede Leminski ao seu amor.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Objeto</b></span><br />
<br />
Objeto<br />
do meu mais desesperado desejo<br />
não seja aquilo<br />
por quem ardo e não vejo<br />
<br />
seja a estrela que me beija<br />
oriente que me reja<br />
azul amor beleza<br />
<br />
faça qualquer coisa<br />
mas pelo amor de deus<br />
ou de nós dois<br />
seja.<br />
<br />
<b>Paulo Leminski</b><br />
(1944-1989])<br />
<br />
Mais sobre Paulo Leminski em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski">http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-82996531331620222062015-12-10T02:00:00.001-02:002015-12-10T11:40:59.970-02:00Até morrer estarei enamorada de coisas impossíveis. Sem mais nada além de mim, numa eternidade inútil, confessa Cecília.<br />
<b><span style="font-size: large;">Eternidade inútil</span></b><br />
<br />
Até morrer estarei enamorada<br />
de coisas impossíveis:<br />
<br />
tudo que invento, apenas,<br />
e dura menos que eu,<br />
que chega e passa.<br />
<br />
Não chorarei minha triste brevidade<br />
unicamente a alheia,<br />
a esperança plantada em tristes dunas,<br />
em vento, em nuvens, n'água.<br />
<br />
A pronta decadência,<br />
a fuga súbita<br />
de cada coisa amada.<br />
<br />
O amor sozinho vagava.<br />
Sem mais nada além de mim...<br />
numa eternidade inútil.<br />
<br />
<b>Cecília Meireles</b><br />
(1901-1964)<br />
<br />
Mais sobre Cecília Meireles em<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_MeirelesUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-21795584577510956612015-12-10T02:00:00.000-02:002015-12-10T02:00:06.184-02:00Por quê?<br />
<span style="font-size: large;"><b>Por quê?</b></span><br />
<br />
Por que nascemos para amar, se vamos morrer?<br />
Por que morrer, se amamos?<br />
Por que falta sentido<br />
ao sentido de viver, amar, morrer?<br />
<br />
<b>Carlos Drummond de Andrade</b><br />
(1902-1987)<br />
<br />
Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade">http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-62480849516713779032015-12-09T02:00:00.000-02:002015-12-09T18:01:57.995-02:00Para Manuel Bandeira, a alma é que estraga o amor. Se queres sentir a felicidade de amar, esquece-a e deixa teu corpo entender-se com outro corpo, porque os corpos se entendem, mas as almas não.<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: large;">Arte de amar</span></b><br />
<br />
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.<br />
A alma é que estraga o amor.<br />
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.<br />
Não noutra alma.<br />
Só em Deus, ou fora do mundo.<br />
<br />
As almas são incomunicáveis.<br />
<br />
Deixa teu corpo entender-se com outro corpo.<br />
<br />
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.<br />
<br />
<b>Manuel Bandeira</b><br />
(1886-1968)<br />
<br />
Mais sobre Manuel Bandeira em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira" style="color: #7f7f7f; text-decoration: none;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-70614238552319638172015-12-07T02:00:00.000-02:002015-12-07T02:00:03.682-02:00Bem que o mundo não seria se o nosso amor lhe faltasse. Mas as manhãs que não temos são nossos lençóis de linho, diz todo o amor de José Saramago.<div class="_38 direction_ltr">
<span class="null"><span style="font-size: large;"><b><br />
</b></span> <span style="font-size: large;"><b>Teu corpo de terra e água </b></span><br />
<br />
Teu corpo de terra e água<br />
Onde a quilha do meu barco<br />
Onde a relha do arado<br />
Abrem rotas e caminho.<br />
<br />
Teu ventre de seivas brancas<br />
Tuas rosas paralelas<br />
Tuas colunas teu centro<br />
Teu fogo de verde pinho<br />
<br />
Tua boca verdadeira<br />
Teu destino minha alma<br />
Tua balança de prata<br />
Teus olhos de mel e vinho<br />
<br />
Bem que o mundo não seria<br />
Se o nosso amor lhe faltasse<br />
Mas as manhãs que não temos<br />
São nossos lençóis de linho<br />
<br />
<b>José Saramago </b><br />
(1922-2010)<br />
<br />
Mais sobre José Saramago em <br />
<a class="_553k" href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago" rel="nofollow" target="_blank">http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago</a></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-77023034557377575862015-12-06T02:00:00.000-02:002015-12-06T02:00:00.316-02:00Depois que todos foram, foi também o dia. E ficaram entre as sombras das áleas apertadas eu e a minha agonia, quem eu fui e quem sou, só eu e eu sem mim, eu e quem sei não ser, lembra com tristeza Fernando Pessoa.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Depois</b></span><br />
<br />
Depois que todos foram<br />
E foi também o dia,<br />
Ficaram entre as sombras<br />
Das áleas do ermo parque<br />
Eu e a minha agonia.<br />
<br />
A festa fora alheia<br />
E depois que acabou<br />
Ficaram entre as sombras<br />
Das áleas apertadas<br />
Quem eu fui e quem sou.<br />
<br />
Tudo fora por todos.<br />
Brincaram, mas enfim<br />
Ficaram entre as sombras<br />
Das áleas apertadas<br />
Só eu, e eu sem mim.<br />
<br />
Talvez que no parque antigo<br />
A festa volte a ser.<br />
Ficaram entre as sombras<br />
Das áleas apertadas<br />
Eu e quem sei não ser.<br />
<br />
<b>Fernando Pessoa</b><br />
(1888-1935)<br />
<br />
Mais sobre Fernando Pessoa em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa">http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-277965686692234052015-12-05T02:00:00.000-02:002015-12-05T18:01:30.559-02:00O amor em tercetos, por Thiago de Mello.<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Tercetos de amor</b></span><br />
<br />
§ Só agora aprendi<span class="text_exposed_show"><br /> que amar é ter e reter.<br /> Foi quando te vi.</span><br />
<br />
§ Vi quando a rosa se abriu.<br />
Como a eternidade<br />
pode ser tão fugaz?<br />
<br />
§ Não sei quando é o mar,<br />
ou se é o sol dos teus cabelos.<br />
Tudo são funduras.<br />
<br />
§ Na entressombra, o sabre<br />
se estira na relva morna.<br />
O nenúfar se abre.<br />
<br />
§ Brilha um dorso: és tu.<br />
Encontro no teu ventre<br />
a explicação da luz.<br />
<b><br /></b>
<b>Thiago de Mello</b><br />
(1926)<br />
<br />
Mais sobre Thiago de Mello em<br />
<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello">https://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-54111376285162293602015-12-04T02:00:00.000-02:002015-12-04T19:59:15.578-02:00Na ode de Ricardo Reis, cada um cumpre o destino que lhe cumpre e deseja o destino que deseja. Nem cumpre o que deseja, nem deseja o que cumpre.<br />
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b>Cada um</b></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Cada um cumpre o destino que lhe cumpre</span><br />
<span style="font-family: inherit;">E deseja o destino que deseja;</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Nem cumpre o que deseja,</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Nem deseja o que cumpre.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Como as pedras na orla dos canteiros </span><br />
<span style="font-family: inherit;">O Fado nos dispõe, e ali ficamos;</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Que a Sorte nos fez postos</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Onde houvemos de sê-lo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Não tenhamos melhor conhecimento</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Do que nos coube que de que nos coube.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Cumpramos o que somos.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Nada mais nos é dado.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"></span>
<span style="font-family: inherit;">Ricardo Reis, um dos heterônimos de</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<b><span style="font-family: inherit;">Fernando Pessoa</span></b><br />
<span style="font-family: inherit;">(1888-1935)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Mais sobre Fernando Pessoa em</span><br />
<span style="font-family: inherit;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-49584266541307732882015-12-02T02:00:00.000-02:002015-12-02T17:24:42.353-02:00Um dia e a vida. Segundo uma andorinha cantadora e um poeta com seus versos.<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Andorinha</b></span><br />
<br />
Andorinha lá fora está dizendo:<br />
— “Passei o dia à toa, à toa!”<br />
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!<br />
Passei a vida à toa, à toa…<br />
<br />
<div>
</div>
<div>
<b style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 14px; line-height: 22.256000518798828px;">Manuel Bandeira</b><br />
<span style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: "georgia" , "times" , serif; font-size: 14px; line-height: 22.256000518798828px;">(1886-1968)</span><br />
<br style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 14px; line-height: 22.256000518798828px;" />
<span style="background-color: white; color: #4c4c4c; font-family: "georgia" , "times" , serif; font-size: 14px; line-height: 22.256000518798828px;">Mais sobre Manuel Bandeira em</span><br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira" style="background-color: white; color: #7f7f7f; font-family: Georgia, Times, serif; font-size: 14px; line-height: 22.256000518798828px; text-decoration: none;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira</a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-75290866497888207882015-11-30T02:30:00.000-02:002015-11-30T02:30:01.301-02:00Mario Quintana fez um poema belo e alto como um girassol de Van Gogh. E quer saber em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?<br />
<span style="font-size: large;"><b>Eu fiz um poema</b></span><br />
<br />
Eu fiz um poema belo<br />
e alto<br />
como um girassol de Van Gogh<br />
como um copo de chope sobre o mármore<br />
de um bar<br />
que um raio de sol atravessa<br />
eu fiz um poema belo como um vitral<br />
claro como um adro...<br />
Agora<br />
não sei que chuva o escorreu<br />
suas palavras estão apagadas<br />
alheias uma à outra como as palavra de um dicionário.<br />
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade morta.<br />
O vulto de um velho arquéologo curvado sobre a terra...<br />
Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?<br />
<br />
<b>Mario Quintana</b><br />
(1906-1994)<br />
<br />
Mais sobre Mario Quintana em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana">http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-91175031934723531412015-11-29T02:00:00.000-02:002015-11-29T13:26:44.224-02:00Por muito tempo, Drummond achou que ausência é falta. E que falta nós sempre vamos sentir de Drummond.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Ausência</b></span><br />
<br />
Por muito tempo achei que ausência é falta.<br />
E lastimava, ignorante, a falta.<br />
Hoje não a lastimo.<br />
Não há falta na ausência.<br />
A ausência é um estar em mim.<br />
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,<br />
que rio e danço e invento exclamações alegres,<br />
porque a ausência, esta ausência assimilada,<br />
ninguém a rouba mais de mim.<br />
<span style="font-weight: bold;">Carlos Drummond de Andrade</span><br />
(1902-1987)<br />
<br />
<div class="post-body entry-content">
</div>
<div class="post-body entry-content">
Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em <br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade">http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade</a> </div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-24011121208665699392015-11-28T02:00:00.000-02:002015-11-28T17:41:15.577-02:00Dormes, que penso e mensagens tristes lhe envio. Pensamentos, nada mais, de Cecília em seu acalanto.<br />
<span style="font-size: large;"><b>Acalanto</b></span><br />
<br />
Dorme, que eu penso.<br />
Cada qual assim navega<br />
pelo seu mar imenso.<br />
Eatarás vendo. Eu estou cega.<br />
Nem te vejo nem a mim.<br />
No teu mar, talvez se chega.<br />
Este, não tem fim.<br />
Dorme, que eu penso.<br />
Que eu penso neste navio<br />
clarividente em que vais.<br />
Mensagens tristes lhe envio.<br />
Pensamentos - nada mais.<br />
<br />
<b>Cecília Meireles</b><br />
(1901-1964)<br />
<br />
Mais sobre Cecília Meireles em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles">http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-45008915050735835262015-11-22T02:00:00.000-02:002015-11-23T07:35:55.444-02:00Tomara, apenas uma palavra. E Vinicius disse tudo que gostaria que ela entendesse.<b><br /></b>
<b><span style="font-size: large;">Tomara</span></b><br />
<br />
Que você volte depressa<br />
Que você não se despeça<br />
Nunca mais do meu carinho<br />
E chore, se arrependa<br />
E pense muito<br />
Que é melhor se sofrer junto<br />
Que viver feliz sozinho<br />
<br />
Tomara<br />
Que a tristeza te convença<br />
Que a saudade não compensa<br />
E que a ausência não dá paz<br />
<br />
E o verdadeiro amor de quem se ama<br />
Tece a mesma antiga trama<br />
Que não se desfaz<br />
E a coisa mais divina<br />
Que há no mundo<br />
É viver cada segundo<br />
Como nunca mais<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<b style="font-size: 14px; line-height: 22.3906px;">Vinicius de Moraes</b><br />
<span style="font-size: 14px; line-height: 22.3906px;">(1913-1980)</span><br />
<br style="font-size: 14px; line-height: 22.3906px;" />
<span style="font-size: 14px; line-height: 22.3906px;">Mais sobre Vinicius de Moraes em</span><br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes" style="color: #7f7f7f; font-size: 14px; line-height: 22.3906px; text-decoration: initial;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes</a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-75379652326178191282015-11-20T02:00:00.000-02:002015-11-20T13:41:14.224-02:00O fundo da noite guarda silêncios. Mas para a menina de Flora Figueiredo, cai um pingo de luz, amanhece.<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Como nascem as manhãs</b></span><br />
<br />
O fundo dos olhos da noite<br />
guarda silêncios.<br />
Esconde na retina<br />
a menina que corre descalça em campo aberto.<br />
Pálpebras cerradas, a noite emudece.<br />
A menina com medo<br />
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.<br />
Cai um pingo de luz.<br />
Amanhece.<br />
<br />
<span style="font-weight: bold;">Flora Figueiredo</span><br />
<br />
Mais sobre Flora Figueiredo em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Flora_figueiredo">http://pt.wikipedia.org/wiki/Flora_figueiredo</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24554647.post-34933334596565833662015-11-19T02:00:00.000-02:002015-11-19T09:47:18.897-02:00Ela não mentiu gozo, prazer, lascívia. E ainda perguntou: por que haverias de querer minha alma na tua cama?<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>E por que haverias de querer...</b></span><br />
<br />
E por que haverias de querer minha alma<br />
Na tua cama?<br />
Disse palavras líquidas, deleitosas,ásperas,<br />
Obscenas, porque era assim que gostávamos.<br />
Mas não menti gozo prazer lascívia<br />
Nem omiti que a alma está além, buscando<br />
Aquele outro. E te repito: por que haverias<br />
De querer minha alma na tua cama?<br />
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.<br />
Ou tenta-me de novo.Obriga-me.<br />
<br />
<b>Hilda Hilst</b><br />
(1930-2004)<br />
<br />
Mais sobre Hilda Hilst em<br />
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst%20">http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst </a>Unknownnoreply@blogger.com0