segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Para Gastão de Holanda, o Capibaribe tem uma rede bancária para sua clientela das margens. O rio dá com o braço da maré e tira com o murro da cheia.


A rede bancária líquida

O rio tem uma rede bancária
para atender aos flagelados,
sua clientela das margens.
Há um capital chamado pró-giro
feito de redemoinhos e febre amarela.
O rio tem um balanço exigível
pedindo a execução dos marginais
e há sempre passivo, lucro não há.
Perdas? Sim, essas são ganhas, fatais.
As mercadorias em consignação desfilam
no leito rancoroso, como um
gerente, de conta-corrente
que o banco do rio credita ao mar
e não ao devedoso cliente.
O rio empresta a prazos e juros altos
pois quem nele pesca uma tainha
tem que lhe endossar uma cesta de camorins.
Se a fome recorrer ao mangue
a pena é mil alqueires de caranguejos
cevados na lama da baixa-mar.
O rio dá com o braço de maré
e tira com o murro da cheia
que com ela traz o mar de meirinho.

Gastão de Holanda
(1919-1997)

Mais sobre Gastão de Holanda em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gast%C3%A3o_de_Holanda

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