terça-feira, fevereiro 16, 2010

Nesta vida, em que sou meu sono, não sou meu dono. Quem sou é quem me ignoro e só me encontro quando de mim fujo, lamenta em versos Fernando Pessoa.


Nesta vida


Nesta vida, em que sou meu sono,
Não sou meu dono,
Quem sou é quem me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que eu outrora tive,
Numa só vida.
Mar sou: baixo marulho ao alto rujo,
Mas minha cor vem do meu alto céu.
E só me encontro quando de mim fujo.

Quem quando eu era infante me guiava
Senão a vera alma que em mim estava?
Atava pelos braços corporais,
Não podia ser mais.
Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento
Também, aos olhos de quem bem olhou,
A Presença Real sob o disfarce
Da minha alma presente sem intento.

Fernando Pessoa
(1889-1935)

Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Um comentário:

Henrique Rodrigues Soares disse...

Não sou meu dono! É verdade...
Saudações Poemblog 2010!
Abraços!