terça-feira, fevereiro 23, 2010

No soneto da desesperança, eram tais os seus ciúmes dela, tão grande a dor de não poder vivê-la, que em desespero, o poeta resolveu-se: - Mato-a.


Soneto da desesperança


De não poder viver sua esperança
Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho
Secreto, onde ao sabor do seu capricho
Fugisse a vê-la como uma criança.

Tão cauteloso fez-se em seus cuidados
De não mostrá-la ao mundo, que a queria
Que por zelo demais, ficaram um dia
Irremediavelmente separados.

Mas eram tais os seus ciúmes dela
Tão grande a dor de não poder vivê-la,
Que em desespero, resolveu-se: - Mato-a!

E foi-se assim que triste como um bicho
Uma noite subiu até o nicho
E abriu o coração diante da estátua.

Vinicius de Moraes
(1913-1980)

Mais sobre Vinicius de Moraes em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinicius_de_Moraes

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