quarta-feira, agosto 11, 2010
O Ford de Abgar Renault fordeja subindo a rua velha do bairro. E ele sente a beleza de todo o seu ser na doirada névoa da manhã.
Poemeto matinal
O ar da manhã beija a minha face
A minha alma beija o ar leve da manhã
e olha a paisagem longíngua da cidade
que branqueja alegremente na distância
e sorri humanamente
um sorriso branco no caiado das casas
que montam os flancos das colunas azuis
e espiam pelos olhos escancarados das janelas.
7 horas. Vai começar a função.
O despertador das sirenes fura liricamente
o silêncio doirado da manhã.
Parece que a vida acorda agora pela primeira vez
e esfrega os olhos deslumbradamente...
Meu Ford fordeja dentro da manhã
e sobe a rua velha do meu bairro,
arquejando, bufando, fumando gasolina.
Meu Ford a cabriolar nos buracos da rua descalça
é um cabrito todo preto a cabriolar, prodigioso.
O ar leve beija o radiador
e beija a minha face.
A beleza de todo o meu ser
na doirada névoa desta manhã!
Abgar Renault
(1901-1995)
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Abgar_Renault
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