quinta-feira, agosto 12, 2010

Nos versos de Carlos Nejar, Giordano Bruno fala aos seus julgadores. Não é a mim que condenais, mas não podereis calar-me.


Giordano Bruno fala aos seus julgadores


Não é a mim
que condenais.

Nada podeis
roubar-me.
A verdade sofreu
e eu sofri
no grão dos ossos.

A vida não me veio
para mim.
E servirei de vau
a seu moinho.

Não cedo
o que aprendi
com os elementos.

Prefiro o fogo,
à vossa complacência.
E o fogo não remói
o que está vendo.

Abre flancos
no avental
das cinzas esbraseadas.

O fogo
de flamejante língua
e sem coleira:
morde.
E testemunha
sem favor dos anjos.

Não é a mim
que condenais.

A Inquisição
vos fragmentou
e ao vosso juízo.

A ciência toda
é aparência de outra
que nada em nós
como se fora água
do coração.

Eu me fiei
ao universo
e sou janela
de harmonia
indelével.

Não vos julgo.

O que se move
é a história
no caule da fogueira.

Sou de uma raça
que procede do fogo.

Não podereis calar-me.


Carlos Nejar

Mais sobre Carlos Nejar em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Nejar

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