quinta-feira, janeiro 24, 2008

Quando passa de um verso a outro, Nuno Júdice descobre o belo em sua exata proporção. E espera que a mulher dê à dança o argumento da sua nudez.


Regresso do baile

Falo de poesia pura, como se de pura
abstracção estivessem a tratar as mãos
que despem este corpo. E quando passo de um verso
a outro, sabendo que a imagem vai nascendo
deste movimento em que as palavras
dançam na página, limito-me a seguir
os dedos que abrem botão após
botão, e desfazem laço
após laço, até descobrirem o que
sabíamos que existia, sem nunca o ter visto:
o belo, na sua exacta proporção.

No centro do quadro, onde uma janela
se abre para o que é, talvez, uma paisagem,
o olhar distrai-se do significado que
o gesto constrói. E quem passa o limite,
e se confronta com a sombra, perde
a possibilidade de um regresso a este
instante luminoso, em que num simples
eco a música da noite se concentra,
enchendo os ouvidos que se habituaram
ao silêncio.

Por isso, espero que o trabalho
chegue ao fim, para que a mulher se volte,
e dê à dança o argumento
da sua nudez.

Nuno Júdice

Mais sobre Nuno Júdice em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_J%C3%BAdice

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