segunda-feira, janeiro 14, 2008

Aqueles que me têm muito amor não sabem o que sinto e o que sou. Não sabem que sinto essa Dor, vontade doida de gritar, lamenta Florbela Espanca.

Aqueles que me têm muito amor

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

Florbela Espanca

(1894-1930)


Mais sobre Florbela Espanca em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca


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