In Memoriam
I
Seus poemas desenham seu fino hastil
suas corolas vibrantes como pequeninas violas
(ou era a vibração incessante dos grilos?)
seus poemas floriam na tapeçaria ondulante dos prados
onde os colhia a mão das eternamente amadas
(as que morreram jovens são eternamente amadas...)
II
Seus poemas,
dentre as páginas de um seu livro,
apareciam sempre de surpresa,
e era como se a gente descobrisse uma folha seca
um bilhete de outrora
uma dor esquecida
que têm agora o lento e evanescente odor do tempo...
III
E seus poemas eram, de repente, como uma prece jamais ouvida
que nossos lábios recitavam --- ó temerosa delícia!
como se, numa língua desconhecida,
sem querer, falassem
da brevidade
e da
eternidade da vida...
IV
Ah, aquela a quem seguiam os versos ondulantes como dóceis panteras
e deixava por todas as coisas o misterioso reflexo do seu sorriso;
e que na concha de suas mãos, encantada e aflita, recebia
a prata das estrelas perdidas...
V
Nem tudo estará perdido
enquanto nossos lábios não esquecerem teu nome: Cecília...
Mario Quintana
(1906-1994)
Mais sobre Mario Quintana em
Nenhum comentário:
Postar um comentário