quinta-feira, janeiro 10, 2008

No que ouvimos e chamamos de silêncio, um silêncio profundo, se esconde a intensa vontade de gritar de uma mulher. A mulher Clarice Lispector.


Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio
e nesse silêncio profundo se esconde
minha intensa vontade de gritar.

Clarice Lispector
(1920-1977)

Mais sobre Clarice Lispector em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector

Nenhum comentário: