quarta-feira, novembro 21, 2007
Senhor, que perdão tem o meu amigo por tão clara aventura, mas tão dura? Ele não está mais comigo, nem com Tigo, sofre em versos Mário Faustino.
Balada
(em memória do poeta suicida)
Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o facto
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sol da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura).
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência , mas tanta ternura!
Cruel foi teu triunfo, torpe mar
Celebrara-te tanto, te adorava
Do fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares - tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!
Envoi
Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não está mais comigo. Nem com Tigo:
Tanta violência. Mas tanta ternura.
Mario Faustino
(1930-1962)
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