sexta-feira, novembro 30, 2007
Como Ontem, para mim, Hoje é distância. Sou estátua falsa ainda erguida no ar, diz em seus versos plenos de angústia Mário de Sá-Carneiro.
Estátua falsa
Só de oiro falso os meus olhos se douram
Sou esfinge sem mistério no poente,
A tristeza das coisas que não foram
Na minh’alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam,
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distancia.
Já não me estremeço em face do segredo
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...
Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
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