quarta-feira, outubro 11, 2006
Para Maiakóvski, sem forma revolucionária não há arte revolucionária. E ele ainda fazia poesia com uma apaixonada face lírica.
A flauta vértebra
A todas vocês
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem nun banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Vladimir Maiakóvski
(1893-1930)
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