Distante melodia
Que me oscilava entre véus de tule -
Um tempo esguio e leve, um tempo - Asa.
Então os meus sentidos eram cores,
Nasciam num jardim as minhas ânsias,
Havia na minh'alma Outras distâncias -
Distancias que o seguí-las era flores…
Caía Ouro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me…
Noites-lagoas, como éreis belas
Sob terraços-lis de recordar-me!…
Idade acorde d'Inter sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz - anseios de Princesa nua…
Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume…
Domínio inexprímivel d'Ópio e lume
Que nunca mais, em cor, hei de habitar…
Tapetes doutras Pérsias mais Oriente…
Cortinados de Chinas mais marfim…
Áureos Templos de ritos de cetim…
Fontes correndo sombra, mansamente…
Zimbórios - panteons de nostalgias…
Catedrais de ser - Eu por sobre o mar…
Escadas de honra, escadas só, ao ar…
Novas Bizancios - alma, outras Turquias…
Lembranças fluidas… cinza de brocado…
Irrealidade anil que em mim ondeia…
- Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia…
Mário de Sá-Carneiro
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(1890-1916)
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