quinta-feira, agosto 30, 2012

Italianos joviais, húngaros de olhos de leopardo, bolchevistas da Ucrânia, polacos de Wrangel, nipões jaldes como gnomos talhados em âmbar e caboclos do Tietê arrastando o caipira. Lá do alto, Menotti del Picchia viu eles erguerem a Torre de Babel.


Torre de Babel

Eles ergueram a Torre de Babel.
bem na Praça Antônio Prado.
O esqueleto de aço cobriu-se de carne de cimento
e as vigas e guindastes
eram braços agarrando estrelas
para industrializá-las em anúncios comerciais.

Italianos joviais,
húngaros de olhos de leopardo,
caboclos de Tietê arrastando o caipira,

bolchevistas da Ucrânia,
polacos de Wrangel,
nipões jaldes como gnomos nanicos talhados em âmbar

entre as pragas dos contramestres,
os rangidos das tábuas do andaime,
o estridor metálico
das vigas de aço e dos martelos sonoros,
no céu libérrimo de S.Paulo,
fizeram a confusão das línguas,
sem perturbar a geometria rigorosa
do ciclópico arranha-céu!

Lá do alto, o paulista,
bandeirante das nuvens,
mirou o prodígio da Cidade alucinada:
uma casa de três andares
pôs-se a crescer bruscamente
como nos romances de Wells;
outra apontou a cabeça atropelada de caibros
acima do viaduto do Chá;
e começou a desabada carreira
do páreo do azul.
O formidável arranha-céu
com a cabeça nas nuvens
abrigou no seu ventre de concreto
o drama da nova civilização.

Onde estás, meu seráfico Anchieta,
erguendo com o barro de Piratininga,
pelo milagre da tua persuasão,
as paredes rasteiras do Colégio?


Menotti del Picchia
(1892-1988)

Mais sobre Menotti del Picchia em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Menotti_Del_Picchia




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