sexta-feira, novembro 18, 2011

Um Bertolt Brecht quase que desconhecido. Por ele mesmo.


Do pobre B.B.

1.
Eu, Bertolt Brecht, venho da floresta negra.
Para a cidade minha mãe me carrregou
Quando ainda vivia no seu ventre. O frio da floresta
Estará em mim até o dia em que eu me for.

2.
Na cidade de asfalto, estou em casa. Recebi
Desde o início todos os sacramentos finais:
Jornais, muito fumo e aguardente. Desconfiado
Preguiçoso e contente - não posso querer mais!

3.
Sou amável com as pessoas. Uso
Um chapéu cartola segundo seu costume.
Digo: São animais de cheiro bem peculiar
E digo: Não faz mal, também tenho esse perfume.

4.
Pelas manhãs, em minha cadeira de balanço
De vez em quando uma mulher faço sentar
E observando-a calmamente lhe digo:
Em mim você tem alguém em quem não pode confiar.

5.
À noite, alguns homens se reúnem à minha volta
E entre nós, "gentleman" é o tratamento vigente.
Colocam os pés sobre a minha mesa
Dizem: As coisas vão melhorar. E eu não pergunto: Realmente?

6.
Na luz cinzenta da aurora os pinheiros urinam
E seus parasitas, os pássaros, começam o gorjeio.
Por essa hora eu na cidade entorno a bebida
Jogo fora o charuto e vou dormir com receio.

7.
Habitamos uma geração fácil
Em casas que acreditávamos eternas
(Assim construímos aquelas imensas caixas na ilha de Manhattan
E as antenas cujos sinais cruzam o mar como invisíveis lanternas).

8.
Destas cidades ficará: o vento que por elas passa!
A casa faz alegre o conviva: ele a esvazia.
Sabemos que somos fugazes
E depois nada virá, somente poesia.

9.
Nos terremotos que virão tenho esperança
De não deixar meu "Virginia" apagar com amargura
Eu, Bertolt Brecht, chegado há tempo na selva de asfalto
No ventre de minha mãe, vinda da floresta escura.

Bertolt Brecht
(1898-1956)

Mais sobre Bertolt Brechet em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht


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