sábado, novembro 05, 2011

Para António Gedeão, cada um é seus caminhos. Onde Sancho vê moinhos, Don Quixote vê gigantes.



Os meus olhos 

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos
Onde outros com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão 
(1906-1997)

 Mais sobre António Gedeão em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Gede%C3%A3o

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