quinta-feira, julho 21, 2011
A chuva lavava os seus cabelos, voluptuosamente, até as raízes. Para Schmidt, ela era uma árvore molhada e coberta de flores.
A chuva nos cabelos
A chuva molhava os seus cabelos,
A chuva descia sobre os seus cabelos
Voluptuosamente.
A chuva chorava sobre os seus cabelos,
Macios,
A chuva penetrava nos seus cabelos,
Profundamente,
Até as raízes!
Ela era uma árvore,
Uma árvore molhada
E coberta de flores.
Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)
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Um comentário:
A maravilhosa leveza do poema, em relação a esta massa pesada de informações e conhecimento reveste-se nesta capacidade de metamorfose em que assume a vida humana. O corpo manifesta as suas virtualidades de uma forma limitada apenas pelas capacidades de formação e pelos estados de desenvolvimento, crescimento destas mesmas formas. Mas algo mais, o lugar assume também esta caráter de depósito de forma, mesmo quando esvaído. O olhar para o tunel representa muita coisas sendo ele um objecto como um agente, um corpo onde germina algo que o abre e o fecha. O corpo então se desfolha, re-folha?, enraíza em nós, que o sentimos por dentro, em cima e aéreo: exalando o cheiro, eis o gozo das flores, parte intermédia do concepção, gestação e extração,a luz, o fruto que se come e que nos come, que abrimos e que nos devora lábios, dentes, língua, garganta... A imagem da árvore parece antecipar um gozo residual ou agregado: a sua sobra e proteção, o seu fruto, este limite do prazer mais brutal e um ato de ternura inexorável do amor: "Fala e morre", diz Zaratustra, o amor se desfaz no ato da entrega e se reconstroi neste mesmo ato, como que a morte, num certo modo, que carrega dentro de si desnudasse a vida em em si abre e desdobra. Como as pétalas, como o aroma, como o alimento e como a própria terra que nos alimenta e que vive dos nossos corpos.Em todo caso, um processo de abertura e de fechamento contínuo.
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