quinta-feira, julho 28, 2011

Carlos Nejar diz que até a eternidade está à venda por dívida. E no despejo final, só ratos e formigas.


A dívida 

A dívida aumenta,
A do país e a nossa.

Cada manhã sabemos
que se acumula a dívida.
A grama que pisamos
é dívida.
A casa é uma hipoteca
que a noite vai adiando.
E os juros na hora certa.

Ao fim do mês o emprego
é dívida que aumenta
com o sono. Os pesadelos.
E nós sempre mais pobres
vendemos por varejo ou menos,
o Sol, a Lua, os planetas,
até os dias vincendos.

A dívida aumenta
por cálculo ou sem ele.
O acaso engendra
sua imagem no espelho
que ao refletir é dívida.

A eternidade à venda
por dívida.
A roça da morte
em hasta pública
por dívida.
A hierarquia dos anjos
deixou o céu por dívida.
No despejo final:
só ratos e formigas.

Carlos Nejar
(1939)

Mais sobre Carlos Nejar em[
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Nejar


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