terça-feira, fevereiro 08, 2011

Ouve, como tudo é tranquilo e dorme liso. Fecha os olhos e dorme no mais fundo de tudo que nunca floresceu, nos versos de Sophia de Melo Breyner.



Ouve

Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.

Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.

Não te lembres, nem esperes.
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.

Sophia de Melo Breyner
(1919-2004)

Mais sobre Sophia de Melo Breyner em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia_de_Melo_Breyner

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